sábado, 7 de novembro de 2009

POR BAIXO DOS PANOS (MARTHA MEDEIROS)

O underwear feminino segue sendo uma das peças-fetiche do sexo. Volta e meia as revistas fazem enquetes com os homens para saber qual o tipo de lingerie que os faz subir pelas paredes: vermelha, dourada, com renda, sem renda, tigrada, zebrada, transparente. As mulheres, por elas, comprariam apenas as branquinhas de algodão, bem confortáveis, e não se falaria mais nisso, mas nos exigem uma postura mais agressiva: temos que dar nosso recado através da roupa de baixo. Tudo bem, não custa nada realizar as fantasias alheias e as nossas próprias, faz parte dos jogos do amor. Mal sabem eles que nosso problema com calcinhas e sutiãs é bem outro.

Ela estava no médico. Uma quinta-feira à tarde. Consulta no dermatologista. Uma manchinha branca entre os dedos a estava angustiando, e resolveu consultar um especialista para descobrir se era uma micose ou coisa mais grave. Conversaram um pouco. Ela mostrou a mão para o doutor. Ele perguntou se haviam outras manchas como aquela em outras partes do corpo. Ela disse: 'Não que eu tenha percebido'. Danou-se. 'Por favor, passe para aquela sala e tire a roupa que vou examiná-la'.

Toda mulher já passou por essa situação. Esquecer que tinha médico agendado, esquecer da possibilidade de ter que tirar a roupa, esquecer de colocar uma calcinha decente.Você estará com aquela calcinha puída que comprou quatro anos atrás, numa época em que conseguia distinguir se ela era amarela, branca ou bege. Ela mesma, sua adorada calcinha de estimação, que você só veste quando seu marido está viajando para não haver testemunha desta sua inclinação pela pré-história do pret-à-porter. Mas você esqueceu da droga do médico. Que, além de perebenta, acaba de descobrir que você é uma relaxada.

Como todos sabem, não há nada tão ruim que não possa piorar. Você está novamente no médico, foi lá apenas para que ele observe seu couro cabeludo, pois está perdendo os cachos a cada lavagem. De repente, ele percebe que você está com uma coceira estranha na perna e ordena que você de dispa. Sim, você. Você que tem um encontro marcado com um clone do Rodrigo Santoro logo mais à noite e está vestindo aquela calcinha preta tamanho extra-small, sabor morango, com um fecho na frente e a frase Sou tua, Tigrão bordada na bunda. O que fazer neste momento? Chame o doutor para um cafezinho e confesse que seu codinome é Kátia Flávia.
Todos os homens merecem ser surpreendidos por nossa lingerie. Mas não nosso médico. Nem mesmo o legista. Ao acordar de manhã, avalie bem o que está usando. Nunca se sabe o que o dia nos reserva."

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