quarta-feira, 17 de março de 2010

ASSUNTO COMENTADO NO BLOG CYNTHIA GARDA

MASTURBAÇÃO FEMININA



O que aproxima homens e mulheres é o mistério. E no sexo nada é mais misterioso que o orgasmo do outro. Quando comecei a fazer sexo, logo corri para conversar com os amigos gays, porque poucas coisas podem ser mais incompreensíveis do que um homem da primeira vez em que você tenta interagir com um. Na minha lógica, ninguém saberia explicar melhor do que quem dá e recebe, e eu queria muito aprender mais sobre esse segredo que é o homem. Lembro das explicações do Chico e do Cacau até hoje.

Agora, imagina tentar entender o orgasmo de alguém que nunca teve um?

Segundo os dados que consegui coletar na internet, entre 15% e 30% das mulheres não gozam. Esses números são sempre falhos, mas o fato sobre o qual eu acho que é preciso falar é que um número grande de mulheres nunca teve um orgasmo. E eu só posso imaginar a dificuldade dos homens em tentar entender o que fazer.

Na minha cabeça, não tenho dúvidas sobre o que causa isso: falta de punheta. Se eu pudesse começar uma campanha pela felicidade mundial de homens e mulheres, eu faria uma campanha pela masturbação. Porque no universo feminino, ainda falta (muita) masturbação.

Imagina atravessar toda a infância e adolescência sem se masturbar. Agora, imagina fazer sexo pela primeira vez sem nunca ter tido um orgasmo. Sem ter a menor idéia do que é o gozo. Aparentemente essa é a primeira vez de um número ainda significativo de mulheres.

Eu acredito que cada mulher é responsável pela sua felicidade e certamente pelo seu orgasmo. Então, só para contextualizar, este texto de forma alguma sugere aos homens que tomem para si a caçada ao orgasmo perdido. Essa saga é responsabilidade de cada mulher que ainda não teve um. Mas todo mundo pode participar. E não é só na cama. Existem muitas de situações que coibem a masturbação e o gozo feminino. E é por isso que eu acho preciso falar sobre masturbação, como minha mãe falou comigo.

E já que estamos em campanha, masturbe a sua mulher. Masturbe ela no carro enquanto dirige, no cinema, na cama. Se tiver a chance, masturbe. A masturbação é a porta de entrada para o gozo dela com você também. Se estiver na dúvida, pense quando você gostaria que ela lhe masturbasse. Inverta isso e terá a resposta para quando ela gostaria de ser masturbada por você. E não se esqueça de masturbá-la de manhã, quando for o caso. Porque você acorda de pau duro mas ela não acorda lubrificada. Por um mundo com mais orgasmos, masturbe.

Punheteira do cerrado
Eu estava na redação do jornal, ainda pilhadíssima nas minhas primeiras semanas de emprego, quando um colega novato como eu veio me pedir ajuda. O jornal lançaria um suplemento para adolescentes e ele tinha que escrever a primeira matéria, sobre masturbação. Queria saber se eu conhecia alguém que falaria sobre o assunto. Passei o telefone do Breno e do Bruno, que aos 14 anos escreveram a música “Menino novo gosta de bater punheta”. O Breno, claro, deu uma entrevista incrível e posou com um pôster da Marylin Monroe. A nossa parceria, pensando bem, começaria ali, há uns 12 anos, falando sobre punheta para a cidade inteira.

Uma semana depois, já com a matéria paginada, meu colega me chamou de novo, desta vez para que eu visse o resultado. O que se seguiu foi uma das coisas mais revoltantes que já tinha lido. A matéria tinha várias fotos, zilhões de nomes, todos celebrando a masturbação, todos homens. E tinha depoimentos de duas meninas não-identificadas. Elas não tinham nomes, tinham iniciais seguidas de pontos.

No jornal, só suspeito de crime aparecia com as iniciais ao invés do nome. Então, sem dizer nada, a matéria acabava sugerindo que os homens deviam se orgulhar de se masturbar e que as mulheres deveriam ter vergonha disso. Discuti com o meu colega, e ele respondeu que nenhuma mulher concordou em dar o nome. Eu disse que isso era só reflexo do preconceito dele. Ele me perguntou se eu daria uma entrevista. Eu não podia dizer que não.

Começou assim minha primeira declaração pública sobre o meu extenso hábito de me masturbar, que vai me acompanhar para a vida inteira. Eu não lembro em detalhes tudo o que falei, mas contei que me masturbava desde muito pequena, e que uma vez aos 14 anos de idade me tranquei no quarto e decidi ver quantas vezes conseguia gozar. Gozei mais de dez vezes e vomitei. Contei que nos anos 80 me masturbava lendo a seção Forum da Ele & Elas (não existia internet na época). E que continuaria me masturbando a vida inteira.

Uma hora depois, veio o pedido da editora do caderno. Queriam que eu tirasse uma foto para a matéria. Eu disse que só se a minha mãe estivesse na foto, pra botar um pouco de ordem. Liguei para ela então para explicar como a matéria sairia se a gente não falasse. E que isso contribuiria para um monte de garotas terem vergonha de se masturbar. E que como não se masturbariam, fariam sexo pela primeira vez sem nunca ter tido um orgasmo. E que provavelmente demorariam anos para gozar. Anos de sexo mais ou menos, e a gente tinha a chance de ajudar.

Minha mãe ficou muito orgulhosa de mim. Saiu do trabalho, dirigiu para o jornal e posamos para uma foto juntas. Sou filha de hippies, cresci ouvindo que masturbação fazia bem para a saúde e era gostoso. Ponto.

Minha criação explica porque no meu primeiro emprego, no primeiro mês no trabalho, dei uma entrevista falando sobre masturbação, impressa em centenas de milhares de cópias por toda Brasília. Virei a punheteira do cerrado, eu acho, e lembro-me de um amigo com cara desconsolada me perguntando: “Porque você fez isso?”

Fiz porque era importante. Fiz porque eu não sei qual é o número de verdade, mas o que achei na internet diz que até três em cada dez mulheres não gozam. Fiz porque amigas minhas que admiro e amo nunca gozaram ou levaram anos para gozar pela primeira vez.

Este post foi na verdade inspirado num merecido puxão de orelha que eu tomei da Dani depois de postar aqui uma notícia do New York Times sobre a explosão nas vendas de vibradores nos Estados Unidos. Eu postei os números, o link da matéria e só.

Ao contrário de todos os outros posts, que tinham muitos comentários, esse ninguém comentou. Só a Dani, que falou do meu pudor. Ela me atingiu no estômago. Por que pela felicidade da espécie, a gente incrivelmente ainda precisa falar sobre masturbação.

Assim decidi contar a história da copeira em um lugar onde trabalhei. Nós, em grupo, as mulheres que trabalhávamos no local, por uma série de fatos imprevisíveis descobrimos que ela nunca tinha gozado ou se masturbado ou feito sexo oral.

E entre livros emprestados e conversas no cafezinho, ela começou a se masturbar em casa, e depois disso veio todo o resto. Foi a conversa, a leitura, que abriu para essa mulher de quase quarenta anos, morando um uma favela, mãe de três filhos, a porta para o primeiro orgasmo. E conversar, todo mundo pode.

Todo mundo pode gozar também. Estamos em campanha

http://blogjobing.wordpress.com/

Nenhum comentário: